COMO DEFINIR NOVOS TIPOS DE NAVIOS DE SUPERFÍCIE E SUBMARINOS PARA A MB

VAlte (RM1) Ruy Capetti

 

A Marinha do Brasil pretende assinar ainda neste ano contrato de construção e modernização de seus submarinos, e para tanto, está em busca de financiamentos que possa viabilizar a materialização de suas necessidades. Porém, mais complicado ainda é a escolha do tipo de submarino que nos interessa. Qualquer que seja a marinha de guerra, não é uma terefa  fácil a escolha de um determinado tipo de submarino para guarnecê-la.

No caso brasileiro, por nossas dimensões físicas e possibilidades de recursos, os complicadores são extremamente severos, em face dos argumentos que apresentaremos a seguir:

A escolha de qualquer tipo de material para emprego militar se faz em função dos objetivos fundamentais e dos objetivos militares traçados pelos governos. Uma vez definidos tais objetivos, o foram igualmente as ameaças, os riscos que estas envolvem, a estratégia que iremos adotar para resolver nossos problemas de defesa. Evidentemente que conhecemos, num determinado instante, a força militar com que contamos. Se ela não for suficiente, haverá necessidade de sua modernização, a fim de fazer face ás Hipóteses de Emprego estabelecidas.

Até aqui já podemos, simples mortais, vislumbrar as dificuldades de estabelecer a capacitação militar necessária, em face das constantes evoluções das ameaças, tanto em nível mundial, como em nível regional..

Levando em conta uma atual capacidade militar existente, e em face das imposições das ameaças e o grau de risco considerado, os governos traçam estratégias viáveis para resolver os problemas militares, normalmente empregando metodologia conhecida como PROJETO DE FORÇA, que, em resumo, visa a definir a dimensão da expressão militar do país.

Definido as ameaças, riscos estratégias, conhecendo nossa capacidade militar em determinado momento, várias serão as abordagens em busca de soluções para os problemas militares - ela podem ser pela ótica orçamentária, podem seguir abordagens denominadas de baixo para cima, quando se parte das forças existentes para uma determinada solução; de cima para baixo, quando se parte das ameaças e se determinam quais as forças necessárias para resolvê-las, etc.A solução otimizada dos problemas dar-se-á pela análise segundo todas essas abordagens plausíveis, e não pelo enfoque limitado, digamos, por exemplo, ao orçamento.

Selecionadas soluções exeqüíveis para resolver tais problemas (de uma grande gama até de fantasias, como guerra nas estrelas, guerra biológicas, capacidade industrial, capacidade em ciência e tecnologia,  poderosas  marinhas de guerra, formidáveis exércitos, etc) fortemente influenciado pela capacitação em Ciência & Tecnologia e nas inovações tecnológicas, os Ministérios da Defesa seleciona solução, ou soluções, para as quais buscará recursos para concretizá-las. Podem ser navios, tanques, aeronaves, mísseis, exércitos, enfim, toda sorte de material de defesa possível, sendo a única afirmativa percebida como um consenso, na atualidade, que esses meios deverão ser empregados integradamente.

Daí chegam às forças singulares a determinação de necessidades em termos de meios que lhes são particulares,  no caso da Marinha navios de superfície, submarinos, aeronaves, mísseis, minas, entre tantos outros.

Pode o leitor, até aqui, vislumbrar os complicadores dessa seleção, sendo que as soluções sofrem restrições das mais diversas naturezas, tais como os recursos humanos, técnicos, científicos, orçamentários entre muitos outros.É uma análise extremamente complicada, que só pode ser otimizada quando se fundamenta em conhecimentos científicos disponíveis na conjuntura. Devemos lembrar, ainda. que o tempo de construção ou fabricação desses componentes, que irão se constitui nos ativos das diversas forças singulares, raramente é curto, correndo, tomada uma decisão, o risco de já estar ultrapassada quando da sua implantação, ou entrada em serviço.

Países de menor cultura nessa área, e de recursos extemamente limitadores, muitas vezes tomam a decisão de ter navios ou submarinos porque marinhas tem que ter navios e submarinos. O difícil, nesse caso, é determinar o tipo e as quantidades de unidades, e assim muitos Programas de modernização de forças (que é referido na MB como de Reaparelhamento) não tem fundamento consistente, e se sujeitam a questionamentos por todos, da sociedade ao individual, para que queremos adquirir tais meios, extremamente complexos, caros e dispendiosos, em detrimento do social.O grande aliado das atividades militares dos países de menor capacidade, tanto cultural como financeira, é ter ao seu lado, freqüentemente, as lições da história para justificá-los. Países de maior porte militar tem, freqüentemente, a guerra. Concluímos afirmando que devemos cultivar forte argumentação, senão não iremos adquirir o material militar que o país necessita. É muito complicado.

No caso de navios de superfície devemos optar por unidades de maior porte, talvez de 3.000 toneladas para cima, porte este que pode enquadrar fragatas ou contratorpedeiros, não importa a denominação, mas sim o fato de disporem de maiores margens, podendo comportar atualizações de sistemas de armas  e serem mais facilmente adaptáveis às necessidades de emprego múltiplo. Certamente, terão vida mais longa. A disponibilidade (prontidão operativa) será a meta mais importante a ser perseguida.

No caso de submarinos convencionais, eles serão usados em geral, para patrulhamento da costa brasileira e defesa de plataformas de petróleo. Pensar no emprego e águas litorâneas e águas profundas é um must. Devemos buscar, na escolha, o melhor desempenho que pudermos obter em face das limitações de diversas naturezas. O valor militar será o primeiro parâmetro de decisão. A análise econômico-militar será fundamental para justificar a melhor aquisição.

A padronização e a interoperabilidade serão palavras chave, somente se igualando em importância com a nacionalização.

Diante desse quadro, uma possível solução para a Marinha do Brasil é a mesma que, em 1936, resultou na orientação do Alte Gulhem para a retomada da construção naval no Brasil. Naquela ocasião orientava o então Ministro que a Marinha encetasse um programa de reaparelhamento que proporcionasse qualificação ao pessoal das bases e estaleiros, em especial do Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro, evitando, assim, que fosse uma força totalmente dependente de importações (nossas grandes limitações naquela época eram financeiras-cambiais). Sujeitava-se a Marinha, naquela ocasião, a dar os primeiros passos com materiais obtidos no exterior. Este passo, na atualidade, já não mais precisamos dar.

O grande impulsionador de tudo isso será, certamente, o elemento humano, bem preparado para tomar decisões. Não é demais aqui repetir, que sem aquisição e atualização de conhecimentos, em atropelante evolução, não chegaremos ao ponto que nossa Marinha merece, de destaque entre as de mesmo porte. A Tecnologia da Informação, acima de tudo, deverá ser o instrumento pelo qual os nossos TOMADORES DE DECISÃO deverão se valer, e por isso conhecer as reais possibilidades de tal ferramenta, é mandatório para a MB alcançar um lugar no pódio.

 

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