"Uma das coisas que mais irritam
os gerentes de RH e mesmo funcionários das empresas é que os
presidentes e diretores das empresas quase nunca participam de cursos
e treinamentos. Nem dentro da empresa, nem fora da empresa.
Eles "incentivam" e mesmo obrigam
seus subordinados a fazer cursos. Fazem discursos sobre a importância
do treinamento, da atualização permanente, etc. Mas eles mesmos....
fogem de cursos e treinamentos como o diabo da cruz. Dão todas as
desculpas possíveis e imagináveis. As mais esfarrapadas – "tenho um
compromisso inadiável"; "tenho uma viagem que não pode ser adiada nem
antecipada"; "Já fiz muitos cursos iguais a esse nos tempos em que era
gerente..."; "No próximo, prometo que vou...". Por quê?
É simples. Não vão e continuarão
não indo porque os que planejam e fazem os cursos e treinamentos das
empresas ainda estão no tempo pré-cambriano da educação corporativa. E
os diretores e gerentes de RH – tenham a denominação moderna que
desejem ter – pouco entendem dos fatores realmente fundamentais da
aprendizagem como mudança de comportamentos e atitudes.
Os cursos ainda são focados na
avaliação formal do que foi "ensinado", em vez de buscar avaliar se
houve ou está havendo mudanças de comportamento, visão e
atitudes nos participantes no dia-a-dia da empresa.
Assim, os cursos são longos
demais. Ninguém agüenta mais cursos empresariais que duram meses e
meses e ficam repetindo conceitos já conhecidos apenas para completar
a "carga horária" de 180 horas ou quantas horas sejam que os RH acham
que são necessárias para que um curso seja "sério" e tenha "conteúdo".
Cursos a distância, via Internet,
são chatíssimos. Longos, desnecessários. A maioria dos participantes,
se tiver a opção, desiste logo nos primeiros passos. O índice de
desistência dos cursos via Internet chegam em alguns casos a 80% nas
melhores universidades e empresas especializadas nesses cursos.
Além disso existe uma verdadeira
"tara" dos professores, docentes, treinadores em "dar nota"
– "fazer prova final" – "avaliar" o que foi "ensinado"
durante o curso de maneira formal. E como todos sabemos, o professor
(antigo) prepara uma prova que seja sempre "difícil"
e que "mostre que o curso foi sério" e que de
preferência pergunte o que os alunos "não sabem com
facilidade". Prova disso é que todo professor começa a
corrigir uma prova tirando nota e não dando nota ao
aluno. Quando ele começa a ler uma prova, o aluno teoricamente tem
nota 10. À medida que ele vai errando a nota vai
baixando – "errou a primeira pergunta = 9; errou mais uma = 8" – e
assim por diante. Nenhum professor corrige a prova com o aluno
começando com zero e adicionando valor cada vez que ele
acerta.
Assim, em vez do treinador,
professor ou RH da empresa buscar avaliar se o curso ou treinamento
está provocando as mudanças desejadas nas pessoas
e na empresa, ele tem a antiga tara de avaliar se o "aluno" é capaz de
vomitar de volta o que foi ensinado.
Agora, você que está lendo este
artigo, seja honesto comigo. Você acha que um Presidente ou Diretor de
uma empresa vai se sujeitar a fazer um curso ou treinamento em que
tenha que passar por uma "prova" e que possa
correr o risco de tirar uma nota 6.0 (seis) por
exemplo? Ou ser chamado a responder na frente de subordinados
perguntas que ele possa errar feio? Por que um Presidente correria
esse risco? Ele simplesmente não vai. Faz aquilo que todos nós, se
pudéssemos e tivéssemos o poder para tal faríamos – também não
iríamos!
É preciso reinventar o
treinamento corporativo.
Por que fazer avaliações formais?
Por que atribuir "notas" num treinamento corporativo? Qual a função?
Qual a função de "reprovar" alunos em cursos empresariais como vejo
muitas empresas fazerem com orgulho, dizendo que
"aqui não tem marmelada no treinamento"?
Temos que entender o
porquê de treinar pessoas numa empresa. E temos que
entender o quê realmente significa desenvolver
pessoas numa empresa.
É preciso acabar com as
formalidades idiotas do sistema formal de educação. As empresas não
podem repetir dentro de seus muros o anacronismo das universidades
formais.
Certa vez eu convidei um grande
professor estrangeiro para dar um curso numa empresa. Esse curso era
de oito horas – um dia inteiro. O presidente e o diretor geral – com
certeza com medo de se exporem na frente de seus subordinados – deram
uma bela desculpa e não participaram do curso – que tanto diziam
querer participar.
Fiz o seguinte: Dei um jeito para
que o famoso professor estrangeiro fosse o convidado especial do
Presidente para passar o final de semana seguinte ao curso em sua casa
de praia. Convidamos também toda a diretoria. À beira da piscina, na
praia, no bar, no salão de jogos, o professor passou a todos muito
mais do que havia ensinado no curso formal dentro da empresa dois dias
antes. As conversas vararam a noite. Todos ficaram maravilhados. Na 2a.
feira, entreguei a todos, um Certificado de Participação no curso do
tal professor. Todos ficaram espantados!
Afinal, fizeram um curso com o famoso professor ou não? Por que um
"curso" tem que ser dentro de uma sala de aula, com o professor na
frente, os alunos sentados em atitude passiva, etc. etc.? Na verdade,
nem o "Certificado" seria necessário. Apenas quis mostrar a eles que
eles "fizeram" um "curso" muito melhor do que os demais colegas de
empresa.