Um submarino
é uma embarcação construída com a capacidade de navegar na superfície dos mares,
imergir, navegar submerso e emergir, quando assim for desejado.
O seu emprego está restrito às Marinhas de Guerra, sendo
unidades navais essencialmente ofensivas. Sua capacidade de agir isolado e em silêncio,
atingindo áreas sob completo domínio do inimigo, proporcionam a característica mais
marcante da ação submarina - a surpresa - o que, aliado à invisibilidade tridimensional
no meio oceânico, o tornam a mais temível ameaça dos mares, sendo quase impossível de
ser combatido eficazmente pelos demais meios navais.
O submarino é em essência, um formidável
engenho de guerra, com considerável valor tático e estratégico. Muito embora não se
possa negar a renhida oposição contra ele encetada por navios anti-submarinos (A/S),
aviões, helicópteros e mesmo submarinos A/S, o problema completo de sua neutralização
ainda não foi resolvido.
O submarino HUMAITÁ, comandado por um
Capitão-de-Fragata, um dos postos de oficial superior na nossa Marinha de Guerra, faz
parte do programa de renovação e ampliação dos meios flutuantes. Juntamente com outras
duas unidades similares, também construídos na Inglaterra - os submarinos RIACHUELO e
TONELERO, o HUMAITÁ foi o primeiro dessa série (da Classe OBERON inglesa), constituindo,
no Brasil, a chamada Classe HUMAITÁ, por ser justamente o primeiro a ser construído. No
dia dezoito de junho de mil novecentos e setenta e seis fez três anos operando no BRASIL.
Uma belonave moderna, considerado como um
dos mais eficientes submarinos do tipo convencional - ou a propulsão diesel-elétrica,
para diferenciá-lo dos demais com propulsão a reator atômico - custou ao Brasil cerca
de vinte e seis milhões de dólares, a preços da época de sua prontificação. São
suas dimensões gerais cerca de noventa metros de comprimento, seis metros de calado, e
boca (largura da seção transversal) de nove metros; da quilha (parte mais baixa do
navio, servindo de espinha dorsal da sua construção) até a parte mais elevada, na
chamada VELA, conta-se cerca de vinte metros. Desloca duas mil toneladas quando navegando
na superfície e duas mil e quatrocentos toneladas em imersão.
Se fosse colocado na vertical alcançaria a altura
aproximada de um edifício de vinte e cinco a trinta andares. Ao lado do vão central da
ponte Rio-Niterói, nesta posição comparativa, apoiado na superfície do mar,
ultrapassaria a pista de rolamento da via em cerca de vinte ou vinte e cinco metros.
Esta nave toda de aço, máquinas e equipamentos diversos,
atinge velocidade da ordem de quinze nós (quinze milhas/hora) em imersão, podendo
alcançar mais, em regimens extremos de máquinas. Com estas velocidades tem capacidade
para atacar a maioria dos navios mercantes modernos e mesmo navios de guerra, quando
posicionado favoravelmente.
Movido a óleo diesel, submarinos desta classe podem
carregar em seus tanques cerca de quatrocentos mil litros deste combustível, alcançando
distâncias na ordem de dez mil milhas náuticas (mil oitocentos e cinqüenta e dois
metros cada milha).
Todo este complexo, com sua parafernália e seus homens
extremamente adestrados, se movimenta para atacar seus inimigos - navios mercantes, de
guerra de superfície, ou mesmo submarinos - e destruí-los por meio do seu armamento
principal - o torpedo.

COMPARTIMENTAGEM DO S HUMAITÁ, MÁQUINAS E
EQUIPAMENTOS.
Na figura, as estações 1 e 6 mostram os
Compartimentos de Torpedos, destinados a armazenar os torpedos e alojar os tubos para
lançá-los. Suas instalações de beliches comportam, também, pessoal da guarnição
para dormir.
Já o compartimento 2, denominado de Compartimento de
Baterias Avante, aloja, na parte superior do piso, pessoal para dormir e fazer
refeições. Na parte inferior estão instaladas as baterias de acumuladores, destinadas
à propulsão em imersão, e alimentação dos diversos circuitos elétricos do submarino.
O espaço 3, ou Compartimento de Manobra, é o Centro de
Comando e Controle do Navio. Aí ficam os periscópios, mastros de comunicações, mastro
de contra-medidas eletrônicas, mastros do esnórquel, e muitos outros equipamentos.
Indicados pela posição 4 estão os
Compartimentos de Máquinas - onde são instalados os motores à combustão principais
(MCP), do tipo Diesel, responsáveis pelo acionamento dos Geradores Elétricos Principais
(GEP), que se encarregam da carga das baterias de acumuladores e propulsão na
superfície.
No compartimento 5 - denominado Compartimento dos Motores
Elétricos Principais (MEP) é onde ficam os motores elétricos principais que recebem
corrente elétrica dos GEP/baterias de acumuladores, e fazem girar os hélices,
proporcionando a movimentação do submarino, além dos controles elétricos necessários.
Quando as baterias de acumuladores ficam descarregadas,
recebem carga dos GEP.
Mas um submarino, para operar, necessita
de muitos outros motores, sistemas e equipamentos. Os principais são os MOTORES À
COMBUSTÃO PRINCIPAIS (MCP) - que funcionam queimando mistura de combustível (óleo
Diesel) e ar. Quando o submarino mergulha, no seu interior não fica ar suficiente para
que esses motores possam ser operados. Tal só pode acontecer, em imersão, se for usado o
esnórquel. Se esses motores forem acionados sem o uso do esnórquel, ocasionarão forte
queda de pressão no interior do submarino, de tal monta que provocarão sangramentos nos
tripulantes, seus olhos saltarão das órbitas, além de outras conseqüências
desastrosas.
O sistema de ESNÓRQUEL é constituído por dois
tubos verticais (chamados mastros do esnórquel) que saem do interior do submarino e
chegam a superfície. Por um deles, os MCP aspiram ar de superfície e pelo outro,
descarregam os gases da combustão para a superfície. Como há restrição na entrada de
ar por esses tubos, quando os MCP estão funcionando, cai também, no interior do
submarino, a pressão, formando-se um vácuo relativo que chega a atingir 5 polegadas
abaixo da pressão atmosférica. A variação deste vácuo (aumentando e diminuindo, à
medida que as ondas tendem a bloquear e desbloquear intermitentemente a entrada de ar para
os motores diesel, nas extremidades dos tubos do esnórquel que estão acima da
superfície do mar) é altamente incômoda, provocando sensações como se a pessoa
estivesse resfriada, e sentisse aquela pressão súbita nos ouvidos, sem possibilidade de
igualá-la com o exterior.
Os GERADORES ELÉTRICOS PRINCIPAIS são
acionados pelos motores a combustão principais, produzindo corrente elétrica para
carregar as baterias. Podem produzir correntes elétricas da ordem de três a quatro mil
ampéres de intensidade.
Os MOTORES ELÉTRICOS PRINCIPAIS são grandes motores
elétricos alimentados ou unicamente pelas baterias, ou pela combinação
baterias-geradores. Quando em funcionamento acionam os hélices, fazendo o submarino se
deslocar num movimento de translação.
São as BATERIAS conjuntos de duzentos e
cincoenta e dois elementos acumuladores de chumbo-ácido, que produzem a energia para a
propulsão e alimentação da luz elétrica, aquecimento, funcionamento de equipamentos
diversos, e muitos outros, por meio de grupos conversores especiais. Possui energia
armazenada capaz de produzir trabalho equivalente a elevar o S HUMAITÁ a uma milha e meia
(cerca de dois mil e setecentos metros) de altura.
Para a interligação com o exterior, um
submarino usa diversos MASTROS:
Os PERISCÓPIOS - são tubos através dos quais, nas
proximidades da superfície, pode-se vigiar visualmente o mar nas imediações até o
horizonte. Contam, no seu interior, com um sistema ótico tipo telescópio de Galileu.
São dois, um de observação e outro de ataque.
Os MASTROS DE COMUNICAÇÕES e o MASTRO DA ANTENA RADAR -
são extensos tubos, que podem ser içados ou arriados, quando perto da superfície, de
modo a facilitar o estabelecimento de comunicação e recepção de mensagens, pela
exposição de antenas apropriadas, bem como exercer a vigilância radar.
Os LEMES HORIZONTAIS e o VERTICAL: Os lemes
horizontais permitem que se controle o movimento do submarino no plano vertical. No caso
do submarino convencional, isto é, de propulsão não nuclear, são normalmente
distribuídos aos pares, de um bordo e do outro do submarino, um par a ré, e um par perto
da proa.

Lemes Horizontais de vante.
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Os de ré tem
maior influência na inclinação do casco, fazendo com que este se incline para cima ou
para baixo, enquanto os de vante tem maior influência na profundidade que o submarino
navega (a cota), ambos, conjugadamente, acarretando variações de cota - profundidade em
que se está navegando. O leme vertical, por sua vez, permite o controle do submarino no
plano horizontal, fazendo com que vá para sua direita (para Boreste) ou para sua esquerda
(para Bombordo), permitindo, assim, que se possa seguir um rumo indicado pela agulha
giroscópica, equipamento que estabelece a referência para a navegação no plano
horizontal.
O CONGOP, sigla que designa o Controle de Governo e
Profundidade é o equipamento que congrega, num controle único tipo manche de avião, o
controle do submarino em cota (profundidade) e em rumo (direção no plano horizontal).
Além desses equipamentos principais, o
submarino conta também com outros diversos SISTEMAS ELETRÔNICOS:
- SONARES, que permitem, valendo-se da propagação do som
no meio líquido, localizar e identificar objetos submersos, ou mesmo se deslocando na
superfície ou em baixas altitudes, muito próximos da superfície do mar. São os olhos
do submarino, quando em imersão.
- RADARES, que permitem, pela propagação no ar, de ondas
de alta freqüência, detectar alvos na superfície do mar, ou aéreos.
- DE NAVEGAÇÃO - por satélites, ou pelo sistema ÔMEGA.
O primeiro permite determinar a posição do submarino na superfície do mar, ou em sua
proximidade, captando os dados por antenas instaladas nos diversos mastros, por
observações eletrônicas da posição de satélites que passam, em sua órbitas, no
alcance dos equipamentos de navegação; e o segundo, por emissões eletrônicas de um
sistema que provê o posicionamento por determinação de hipérboles de posição. Este
último não muito do agrado dos submarinistas, pois a posição que fornece é dúbia
entre as hipérboles de quadrantes opostos , por não contar a navegação com um
acompanhamento permanente, devido aos períodos de imersão do submarino.
- DE RÁDIOS TRANSMISSORES E RECEPTORES, para
comunicações radiotelegráficas; e
- DE CONTRA-MEDIDAS ELETRÔNICAS, para descobrir se há
navios inimigos na área do Submarino.
O SISTEMA DE DIREÇÃO DE TIRO é o conjunto de
equipamentos destinados ao acompanhamento dos alvos. Dele fazem parte os radares, sonares,
computadores de direção de tiro e os torpedos. É um sistema auxiliado por computador,
sendo que a decisão do disparo, contudo, ainda é da inteira responsabilidade do
Comandante.
Os TORPEDOS, que constituem a principal
arma do Submarino, são de diversos tipos. Podem ser torpedos ACÚSTICOS, que se orientam
para o alvo atraídos pelo ruído que eles fazem; podem, inclusive, fazer emissões sonar
contra esses alvos, e por recepção de eco, se orientar contra eles; podem, finalmente,
serem guiados a fio, até as proximidades do alvo, sendo então liberados para o ataque
final.
Os torpedos atingem velocidades da ordem de quarenta e
cinco nós (milhas/hora) (cerca de oitenta km/hora), sendo que determinados tipos têm
capacidade para atingir alvos, em alguns casos, distantes na ordem de trinta km ou mais.
Alguns desses artefatos chegam a pesar tonelada e meia, carregando carga explosiva
suficiente de TNT, ou explosivos especiais, para que um, somente um, ponha fora de combate
um Contratorpedeiro ou Fragata de mais de três mil toneladas de deslocamento.
TANQUES: como todos submarino, este possui diversos
tanques que permitem a compensação de pesos (equilíbrio do submarino em peso, podendo
ser pesado, leve ou neutro), a trimagem (equilíbrio do submarino segundo um eixo
transversal, podendo ser pesado ou leve na pôpa, pesado ou leve na proa, ou trimado), e
podem conter óleo diesel, água salgada, reserva de água doce para consumo, reserva de
água para baterias. Os tanques de água salgada, ou tanques de lastro, quando alagados,
destroem a flutuabilidade positiva do submarino, permitindo que possa mergulhar, por
força da impulsão produzida por seus hélices.
Em tempo de paz o S HUMAITÁ está sempre
se adestrando para atingir e manter a sua máxima eficiência operativa em combate. Assim,
ele realiza freqüentes exercícios de ataque ao tráfego marítimo, sem contudo, empregar
torpedos com cabeças explosivas. Usa, nesses casos, torpedos com cabeça de exercício,
que não oferecem perigo de explosão. Além do mais, por razões de segurança, se faz
com que esses torpedos, quando lançados, passem por baixo do alvo, sem perigo de
colisão, evitando danos a ambos, com a possibilidade de reaproveitamentos futuros em
outros lançamentos de exercício.
Outros exercícios são também realizados, tais como
reconhecimento de litorais hostís, quer por fotografias, como pelo emprego de agentes
mergulhadores, desembarcados em pontos e ocasiões apropriadas, saindo do submarino ainda
em imersão.
Além desses exercícios com características de
operações navais o S Humaitá realiza diariamente, exercícios chamados de requisitos
mínimos, visando a manter o adestramento da guarnição em fainas de emergência, tais
como incêndio a bordo; colisão com outro navio ou com qualquer objeto submerso; controle
de gases tóxicos emanados das baterias de acumuladores quando alagadas por água do mar;
controle do submarino quando os sistemas dos lemes horizontais se avariarem e causarem uma
ponta excessiva para cima ou para baixo, com perigo de retornar à superfície
intempestivamente e bater em outro navio, ou então ultrapassar a profundidade de teste e
ser esmagado pelas tremendas pressões do mar; exercício de controle de alagamentos, e
outros.
Os submarinos contribuem também, em tempo
de paz, para o exercício de fiscalização do mar territorial, realizando patrulhas de
longa duração em áreas em que estejam em vigor acordos de pesca, e em outras áreas de
passagem inocente de navios das demais nações que trafegam no mar territorial
brasileiro.
O preparo para uma dessas patrulhas, uma constante na vida
do submarino, começa muito antes da data marcada para suspender. A área a ser patrulhada
é cuidadosamente estudada, quanto as suas características de interesse essencial -
condições de tempo, de visibilidade, de temperatura da água do mar, de características
de propagação sonora na água, entre várias outras. Provê-se a prontificação do
submarino e seus diversos equipamentos, recebe-se óleo combustível, lubrificantes e
graxas, gêneros alimentícios e sobressalentes (partes de reposição de sistemas,
equipamentos ou peças), faz-se exame médico-dentário em todo o pessoal (pois que não
levam médico a bordo, cabendo ao Comandante avaliar e decidir quanto aos aspectos de
saúde que podem abortar a patrulha).
Normalmente o Comandante, Imediato e um Enfermeiro devem
ter noções de Primeiros Socorros que permitam o atendimento nos casos comuns e que não
requeiram cuidados mais especializados. Mas a decisão de interromper uma patrulha para
regressar ao porto mais próximo o mais breve possível, de modo a permitir socorro
médico adequado ao doente, no caso em que nada possa ser feito por bordo, resta com o
Comandante. Em tempo de paz a segurança humana é o fator principal que o orienta.
Porém, em tempo de guerra, a missão será a principal motivação, tornando difícil a
decisão entre a segurança humana e a consecução da tarefa imposta. Por isso a higidez
do pessoal de bordo deve ser mantida na melhor condição.

(continua) |